Os carboidratos sempre foram tratados
como os nutrientes de alta densidade calórica, que produzem energia ao corpo e
que precisavam ser consumidos, pois na antiguidade o ser humano era mais ativo
e gastava muita energia, por isso a reposição da energia precisava ser do mesmo
tamanho ou até maior. Com o passar dos anos e com a chegada de novos estudos e
tecnologia, aprendemos que o carboidrato não é a unica fonte de macronutriente
que pode fornecer energia, porém ainda continua sendo a primária.
Junto da tecnologia vieram os novos
alimentos, veio a facilidade em obter o alimento e toda a energia gasta antes
foi deixando de ser gastada, fazendo com que as pessoas engordassem com mais
facilidade, comessem com mais facilidade e os carboidratos foram se tornando o
“vilão” dos macronutrientes. Passou-se então a existir as dietas que eliminavam
os carboidratos da alimentação, fazendo com que a ingestão calórica fosse
diminuída e que a perda de gordura fosse aumentada… Mas pera aí, será que
realmente a retirada dos carboidratos é a chave para uma dieta de perda de peso
de sucesso?
Os principais efeitos dos carboidratos no
corpo humano
Este sub-titulo é um pouco mais
técnico e de difícil leitura, porém muito importante entender todo o processo
para podermos entender o resto do artigo como um todo. Caso queira, pule este
sub-titulo e vá para os demais e caso termine o artigo sem entender, volte e
leia-o.
A digestão dos carboidratos ocorre
primariamente na boca, principalmente pela ação de amilases que começam a
hidrolisar as primeiras partículas de amido. A digestão não ocorre na passagem
do alimento entre o esôfago e o estômago. No estômago, a amilase saliva é
inativada pela mudança de pH.
Já no intestino delgado, os
carboidratos sofrem a ação de outras enzimas, como a amilase pancreática, que
começa a hidrolisar partículas de amilose e amilopectina e ainda no intestino
delgado, sofre a ação ainda da isomaltase, sacarase, maltase e lactase, fazendo
com que finalmente os monossacarídeos sejam liberados e possa ocorrera absorção
dos mesmos. Caindo na corrente sanguínea, esses monossacarídeos possuirão
destinos básicos, sendo eles: utilização por tecidos os quais não são
dependentes de insulina; utilização por tecidos insulino-dependentes através de
sinalizações realizadas pela insulina (que é liberada). No primeiro caso,
tecidos como o cerebral logo utilizarão esses carboidratos para gerar energia
para a célula. No segundo, além de gerar energia para a célula, esses
carboidratos podem sofrer sínteses os quais os transformarão em glicogênio, por
exemplo, no fígado e no tecido hepático ou mesmo no panículo adiposo, sendo
convertidos em triacilglicerol e armazenados como gordura corpórea. Além disso,
deve-se considerar que caso haja no corpo estoques suficientes de glicogênio, o
mesmo também será convertido em triacilglicerol e armazenado como forma de
gordura corpórea.
Macarrao excelente carboidrato ao corpo
Basicamente, esses carboidratos ao
entrarem nas células para serem usados como energia, passam pela glicólise, ou
seja, pela quebra da glicose a fim de gerar ATP. Esse ATP então é utilizado
como energia, gerando dois “produtos” de piruvato, os quais podem ser
convertidos em lactato, indo para o ciclo de Cori ou mesmo em Acetil-COA, qual,
neste caso, entrará para o ciclo de Krebs.
Os resultados são novas produções de
ATP os quais não nos convém falar nesse momento. Porém, é entendível que todos
esses processos ocorrem de maneira muito fácil e rápida quando comparados com
os de outros macronutirentes.
Além disso, devemos ter bem claro que
as sinalizações insulínicas são altamente anabólicas, inclusive para o panículo
adiposo, contribuindo para a armazenagem de gordura corpórea. Outros hormônios
ainda são produzidos na presença de carboidratos, que podem inibir a lipólise,
o que contribui ainda mais para esses fins.
A retirada dos carboidratos da dieta pode
afetar o corpo?
Sem sombra de dúvidas! E é por isso
que dieta low carb (baixo carboidrato) NÃO deve ser confundido com dieta SEM
CARBOIDRATOS. Isso quer dizer que certas reduções, por questões óbvias, nos
níveis de carboidratos podem ser interessantes e apenas isso.
Porém, quando retiramos por completo os
carboidratos da dieta, poderemos apresentar efeitos como:
Aumento do catabolismo muscular (em especial pelo aumento do cortisol);
Dificuldade na recuperação muscular e na síntese de glicogênio;
Dificuldade na absorção e peptídeos como a creatina;
Dificuldade na manutenção hídrica do corpo;
Dificuldade na produção de hormônios como a serotonina, essenciais no
humor e no dia a dia;
Aumento da acidose sanguínea;
Relativa diminuição na síntese proteica;
Dificuldade no balanço nitrogenado positivo.
Portanto, são muitos os efeitos
negativos que devem ser ao máximo evitados.
Corpo humano, um equilíbrio
Falar do corpo humano sem falar de sua
tremenda busca pela homeostase é como falar da França sem a torre Eiffel, ou
seja, impossível. Dessa forma, o corpo sempre está buscando mecanismos para
alcançar a homeostase, a qual somente é encontrada na morte. Entretanto, é
justamente essa busca que o mantém ativo e vivo.
A grosso modo, dizer que o corpo possa
funcionar sem uma boa distribuição do que lhe é fornecido em termos de
hidratação, alimentação, os estímulos que são propostos a ele, como as
atividades físicas, o descanso propiciado entre outros é nulo. Para que
realmente ele esteja em boas condições, por mínimas que sejam, é necessário
certo equilíbrio em tudo que se faz.
Se tratando especificamente da
alimentação, quando temos a presença em grandes quantidades de determinada
substância, composto ou seja o que for, o corpo seguirá mecanismos para
eliminar aquele que está em excesso ou fará com que ele seja, de alguma forma
armazenado no mesmo. Isso, quando esse composto e/ou substância não será um
efeito extremamente tóxico.
Equilibro corporal
É óbvio que quando ingerimos
carboidratos em excesso, eles serão convertidos em gordura corpórea. E é claro
que quando ingerimos QUALQUER macronutriente em excesso, ele também será estocado
em forma e gordura corpórea. Os carboidratos muitas vezes estão associados
diretamente com o ganho de gordura corpórea, pois são facilmente metabolizados
pelo corpo pelo aparelho que o mesmo tem que é destinado principalmente a
estes. Aliando ainda os processos insulínicos que são desencadeados pelos
carboidratos, temos então uma combinação perfeita para tais resultados.
Porém, temos de entender que o corpo
humano se faz através de um equilíbrio. Simplesmente retirar todo carboidrato
da dieta, prejudicará, por exemplo, a produção de AMPk, que resultará em uma
dificuldade na utilização da gordura corpórea para a gliconeogênese, ou seja,
prejudicando a produção de energia por ordem dos lipídeos (o que resultaria na
redução da gordura corpórea). Além disso, essa brusca redução causa uma queda
metabólica, quando a longo prazo.
Simplesmente
retirar os carboidratos da dieta não é a chave do emagrecimento. Se estivermos supercompensando o corpo com
outros macronutrientes, o saldo energético (que é o mais importante) continuará
o mesmo ou em muitos casos até maiores.
Portanto, devemos entender que o
equilíbrio entre os macronutrientes é a chave para o sucesso.
E qual o equilíbrio entre os macronutrientes?
É difícil propor uma média sobre qual
deve ser o equilíbrio entre os macronutrientes aos diferentes indivíduos, quem
dirá ter noções precisas. Obviamente, isso se deve ao fato não de que esse seja
um assunto não bem entendido, mas porque cada corpo sendo um corpo, cada qual
reagirá de uma tal forma frente a diferentes condições devido às suas condições
fisiometabólicas diferentes, além de deixar em alta a modalidade esportiva e o
objetivo do indivíduo.
Nem mesmo o biótipo corpóreo pode
definir em como essa distribuição pode ocorrer. Um clássico exemplo é a recomendação
para que ectomorfos consumam maiores quantidades de carboidratos, porém existem
alguns que NÃO respondem bem a esse consumo e acabam se beneficiando mais com
maiores consumos de lipídios como fonte energética. O mesmo vale para endomorfos que muitas vezes se
beneficiam com maiores quantidades de carboidratos e assim por diante. É ainda
bastante peculiar que um indivíduo possa responder de diferentes formas no
decorrer de um ano ou no decorrer de sua vida: Quantas vezes você já sentiu que
estava com o metabolismo mais rápido e que poderia comer mais? E quantas vezes,
mesmo comendo pouco você se sentia mal e parecia lotado? Pois bem, o corpo
também varia diariamente com suas respostas a estímulos fisiológicos diversos.
Não é porque você irá retirar um único
macronutriente da dieta que irá perder peso. Aliás, seja por efeitos rebote,
seja por efeitos relacionados a queda do metabolismo ou outro fator qualquer,
há grande tendência para o aumento de peso e/ou da adiposidade em um indivíduo
que retira por completo os carboidratos da dieta.
Mais do que ter regras precisas, é
necessário entender que um conhecimento frente a uma anamnese e tentativas as
quais possam avaliar na prática qual é o melhor caminho para você individualmente,
atingir seus resultados através de uma boa distribuição ente proteínas,
carboidratos e lipídios na dieta. Claro que, para isso, muitas vezes a
tentativa e erro são indispensáveis. E é importante dizer que essas tentativas
e erros devem acontecer com certa distância e que você necessita de maiores
especificidades no seu corpo.
É válido por fim, lembrar que alguns
carboidratos são fontes de micronutrientes importantes e de fibras alimentares,
os quais o suprimento ao corpo é indispensável. Entre eles podemos citar o
zinco, o cálcio, algumas vitaminas do complexo B, magnésio entre outros, na
classe dos micronutrientes e, fibras solúveis e insolúveis no segundo caso.
Há algo que, particularmente me agrada
que é o da redução e/ou retirada dos carboidratos da dieta por um ou dois dias
na semana, fazendo com que o corpo esteja sempre ativo e mantenha-se
acelerado. Da mesma forma que muitas
pessoas visam um alto consumo de carboidratos em um dia da semana, enquanto “zeram
carboidratos” nos outros dias, há algumas propostas que mantem protocolos
contrários a esse, ou seja, mantendo alta ingestão de carboidratos a maioria
dos dias e mantendo-se em menor consumo uma ou duas vezes na semana.
Portanto, não tenha medo! Enfrente
essa descoberta de seu próprio corpo!
Conclusão
A retirada completa dos carboidratos
da dieta não é algo vantajoso. Diferente de dietas low carb, onde certa
aplicabilidade é encontrada, as dietas sem carboidratos bem como a retirada dos
carboidratos da dieta não são a chave para o emagrecimento. É necessário manter
um consumo adequado dos macronutrientes para que o corpo esteja com condições
saudáveis e continue o processo de queima de gordura de maneira eficaz.
É importante conhecer a boa
distribuição dos macronutrientes para seu corpo (muitas vezes através da
tentativa e erro) e, principalmente, saber optar por bons alimentos e que se
adequem às suas necessidades individuais.
Boa alimentação!
Artigo escrito por Marcelo Sendon
(@marcelosendon)